Cacofonia [Cacophony], 2018

Charcoal on linen, wood and rope. Dimensions variable

“Emilia Estrada's artistic practice (1989) is, in many ways, a work of excavation, a vertical poetic process (...) This enunciation of an action of collecting and accumulating was later excavated in other projects, on which the debris of ceramic and asphalt become objects and wooden furniture, also elements of other lives linked to forced and voluntary displacement, this time preserved as heritage.

The artist continued to excavate layers of meaning, constructing different narratives about the population and visual traffic that constitutes us. Digging a little further, Estrada reached deeper into our historical and imaginary foundations and the "discovery" of Pindorama. In this prospect, she heard more than one voice. And recorded with charcoal on canvas the dissonant sounds, in abundance, in languages and proto-languages, whose speeches began in one way and ended in another, exchanged, inverted, cut up, expanded, translated. A "true" cacophony. What the artist has fulfilled is a variety of languages, from a variety of creatures, each in their own way trying to communicate, create possible meanings, escape fake news and make their point. These multiple voices unfold even further; cut out but arranged, the aquatic figures - these bodies thrown into the Atlantic are mirrored in the waters of the South Sea."

Text by André Pitol for the book Rio XXI - Gerações Construtivas [Rio XXI - Constructive Generations], published by FGV Foundation, 2025.

“A prática artística de Emilia Estrada (1989) e, em muitos sentidos, uma obra de escavação, um processo poético na vertical (...) Essa enunciação de uma ação de coleta e acúmulo foi posteriormente escavada em outros projetos, nos quais os detritos de louças e asfalto se tomaram objetos e móveis de madeira, também elementos de outras vidas ligadas a deslocamentos forçados e voluntários desta vez preservados como patrimônios. A artista permanecia escavando camadas de sentidos, construindo narrativas diversas acerca do trânsito populacional e visual que nos constitui. Escavando mais um pouco, Estrada alcançou formações históricas e imaginárias mais profundas de nossa “fundação” e do “descobrimento” de Pindorama. Nessa prospecção, ouviu vozes, mais de uma. E registrou com carvão sobre tela os sons dissonantes, aos montes, em fartos idiomas e proto-línguas, cujos discursos começavam de uma maneira e terminavam de outra, trocadas, invertidas, cortadas, expandidas, traduzidas. Uma “verdadeira” Cacofonia. O que a artista tem trazido são linguagens variadas, de criaturas diversas, cada qual a seu modo tentando se comunicar, criar sentidos possíveis, escapar de fake news e marcar a sua fala. Essas múltiplas vozes desdobram-se ainda mais; recortadas, mas arranjadas, as figuras aquáticas - esses corpos jogados no Atlântico espelham-se nas águas do mar do sul.”

Texto de André Pitol para o livro "Rio XXI – Gerações Construtivas" editado pela FGV com lançamento previsto para 2024.